terça-feira, 4 de junho de 2013

Sob o signo do abandono



14/04/2012

O início

...e acho que eu "começaria" da forma mais reticente possível.

O fim?

- Eu não quero colocar um ponto final, não quero colocar pontuação nenhuma. Deixa "terminar" com uma frase pelas [metades]
Vou deixar a história
                 a frase
                o tema [de amor perdido]
                                                       no [meio, partido]

[...]

- No dia em que coloquei o "ponto final" na história.
- Mas ela nunca teve ponto final, né?

Pois é, foi algo como um ponto-e-vírgula, um final com continuação;
uma hesitação, uma quebra, uma mudança de ritmo, de tema [?]

O primeiro meio
(que veio no primeiro pseudo-fim.)

- Estou pensando, pensando, pensando, o sofrimento está doendo na razão. Não está cheio de sangue - a dor está oca. Vazia, como todo sentimento racional - vazia no vazio de sua impossibilidade, de sua irrealidade - será mesmo irreal?

- Ou talvez seja uma construção da nostalgia ("essa é a palavra" "ela combina com você/é a sua cara"); ou um tipo de anestesia.

("Eu não quero ficar te olhando muito. Sei lá quando vou te ver de novo. Isso é um tipo de masoquismo?")

Eu sou masoquista. Quis te ver porque eu gosto de me torturar. Não pensei muito quando fui até você - eu queria tirar aquela história a limpo. O coração estava sujo (ainda está. E doído, [como] sempre).

Ou eu só queria mesmo passar um tempo contigo; porque eu estava sentindo falta da sua paz inquieta. Ou eu só queria te ver, porque queria ter certeza de que ainda era capaz de atrair a sua atenção.
       são muitas as possibilidades, e

                                  EU NÃO sei

qual é a certa. Eu falo demais por palavras. É o meu transe, a minha idiotice, agora sou eu que estou sentindo demais, sentindo com o pensar,
   
         Assim como o meu poeta favorito
    (Sabia que essa sensação era intensamente familiar. Eu CONHEÇO isso, porque o gênio mo apresentou.)

       Eu não consigo me organizar.
       Não quero desistir do projeto.
       Não quero desistir de nada.
       Quero calma
                  a sua paz inquieta.

Quero a solidão inteira do vazio planeta Marte,
A guerra exteriorizando o vazio - íntimo - campo de batalha
"Eu estou feliz demais por estar perto de você - para ficar triste pensando que vai demorar eternamente até te ver de novo."

("Com um sorriso deste tamanho, quem precisa de olhos?")

- Até porque eu só quero fechar os olhos e sentir, não quero a distância de ver. Já vai ter distância demais entre nós - de tempo e de espaço.

                            (EU VOU SUPERAR. PRECISO.)

[distância] HAVERÁ. Ou já há. Sei lá. {Na verdade, eu sei, mas nem queria saber.}

eumeperconofluxoturbulentoincessanteinstantâneomisturadoconfusodaslembranças

      A gente encaixa perfeitamente.
      Juntamos e explodimos.
      Reação (intensa,) imediata.

{Não quero que nada nem ninguém roube o seu cheiro de mim.}

"Estou sentindo como se tivesse uma espada atravessada no meu peito."
"Dizem que quando algum objeto atravessa o nosso corpo, é melhor não tirar, para não piorar a hemorragia."

    - Ou você pede a alguém que saiba lidar com a situação que te ajude, ou você se habilita para isso.

    [Não sei o que é mais difícil de conseguir.]

"Estão todos com uma espada enterrada no peito, né?"

A minha está aqui, prendendo e paralisando e enregelando de metal frio e insensível esse meu músculo vital que sangra o tempo todo, é arrítmico e, ABSURDAMENTE, vivo.

    Deixa eu respirar, sofrer, viver, incorporar, antropofagizar estas últimas horas, que foram, talvez por tempo DEMAIS, as últimas.

                                            EU QUERO VOCÊ AQUI.
                                            COMIGO.
                                            AO MEU LADO.
                                            DENTRO DE MIM
                                            (isso você já está.)
                                            [Mas não de forma suficiente.]

Tem deuses que nos amam, tem deuses que nos odeiam.

Deuses que nos amam:
        - Melpômene, a musa da tragédia;
        - Marte, de várias maneiras;
        - O deus dos desencontros.

Deuses que nos odeiam:
        - Vênus;
        - Gaia;
        - Cronos.

e Juno, é claro, mas ela odeia a maioria das pessoas, então nem conta.

Vênus e Marte se amam furtivamente. Isso faz MUITO sentido.

15/04/2012 - The day after.

"Eu estou no fundo de uma depressão sem fundo", mas não consigo me SENTIR infeliz. É uma depressão plena, carregada de beatitude. (Já devo ter lido isso em algum lugar) A tristeza transforma uma mulher em santa, em mártir. O sofrimento é altamente elegante, altamente respeitável.

16/04/2012

- Pensando no julgamento moral a que se submetem os traidores, lembrei-me daquele que talvez seja o ponto crucial disso tudo.

"Eu não me preocuparia em trair quem quer que fosse para ficar com você."

(Eu realmente não me afeto/afetaria/afetarei com isso.)

"Ah não? Mas eu não quero ser o outro."
      
      "Você não quis ser o oficial[?]!" 
      "Não diga isso."
      "Então o que você faria? Destruiria a minha vida, me faria abandonar largar tudo para ficar com você... para depois me abandonar de novo?"

      [Toda essa conversa é sorridente, leve. Mas não tão alegre, é claro.]
      
      (Depois de um sorriso meio amarelo)
      "Isso é uma coisa muito [] pra você, né?"
      "O abandono? Sim. Nós dois vivemos sob o signo do abandono."
      
      Em que a abandonada sou eu, na esmagadora maioria dos casos.

E essa expressão toda, "sob o signo do abandono", pode parecer ridícula, clichê, excessivamente dramática, mas é a aproximação mais precisa que tenho de uma síntese.


...

Você se lembra das borboletas? Do tipo de lembrança que elas te despertavam?

Hoje eu vi duas. Uma voava idilicamente, numa delicadeza comovente. Vivia em plenitude. Lembrou-me a metamorfose do renascimento - de verme rastejante, terrestre, dependente, para um ser(-)livre, aéreo/etérico, sobretudo belo. Alguns passos à frente, vi outra. Morta. Pisoteada, esmagada, sem cor, sem vida.

Consigo até rir da analogia que posso fazer. Este pequeno relato é polissêmico. Ou apenas ambíguo. Isso depende de quem vai lê-lo.

(O mais irônico [e meio triste] é o intervalo de tempo/espaço entre a plena vida e a plena morte - as duas borboletinhas. Curto demais [e tão significativo].)

TEMPO...
ESPAÇO...
Não sei se quero pensar nisso agora.
(Mas eu já estou pensando nisso o tempo todo!)
Só não quero teorizar e formalizar minhas reflexões. Dói, dá trabalho, e eu não quero me ferir agora porque eu estou cansada para isso.

...

Nós somos ultrarromânticos.
Adoraríamos que nossas vidas fossem um filme.
Nós acabamos provocando os clichês das histórias de amor, às vezes (quase sempre).
Nos é prazeroso SOFRER.
É ridículo, é delicioso...

...

ROMEU & JULIETA.

Eu te expliquei o porquê de eles serem eternos.
Tem a ver com a plenitude e o com o fim...

...

Sentir muito às vezes é muito, às vezes é muito pouco.
Sentir muito pode ser anormalmente excessivo, ou simplesmente insuficiente.

...

Nada que tenha (já não tivesse) me destruído.

...

"Há muitas pessoas que sonham ser traidores. Elas acreditam nisso, acreditam ser isso. Não passam, no entanto, de pequenos trapaceiros. (...) Que trapaceiro não se diz: ah, enfim sou um verdadeiro traidor! Mas também que traidor não de diz à noite: no final das contas, eu era apenas um trapaceiro. É que trair é difícil, é criar. É preciso perder sua identidade, seu rosto. É preciso desaparecer, tornar-se desconhecido."

DELEUZE, Gilles, PARNET, Claire. Diálogos. São Paulo: Editora Escuto, 1998, p. 58.






04/06/2013, facing the consequences. 
Visto assim, depois de um ano, as coisas ainda parecem extremamente reais. Dá para tocar  nessa dor toda.
Contudo, dá para ver, também, o ridículo do sofrimento (ou, para ser menos pesado, os extremos da idealização). De ele me pedindo que escrevesse sobre... Porque esse texto só existe porque ele me pediu que o fizesse (ou não). Qual o motivo para eu querer imortalizar isso? (Pois que ele era motivo o suficiente, afinal...)
"Hoje eu só quero ficar numa boa." E era com essa frase que, nos ditos dias "áureos", eu sequer podia vê-lo.
Eu estou mesmo cansada disso tudo. Mas precisava me livrar... Pelo menos dessa parte concreta, guardada por mais de um ano, e agora despejada aqui, sem máscaras, e sem preocupações, porque dificilmente alguém vai ler e se importar. E nem eu tentarei fazer com que isso aconteça (mentira, provavelmente o farei. Porque eu também estou cansada de sofrer sozinha). 

(Eu também nem sei se quero que alguém leia e/ou se importe. Eu só quero me livrar.) [Outra mentira, das várias que eu vivo contando por aí...] 

2 comentários:

  1. Eu já li isso antes, né? Saudades.

    (e eu li e me importo)

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    1. eu estou assustada em dois níveis diferentes:

      1. eu não esperava que alguém fosse comentar por aqui, principalmente esse texto;

      2. eu estava pensando em você há alguns minutos, Cléo.

      Estou chocadíssima!

      Saudades imensas, infinitas.

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:)